quarta-feira, 11 de março de 2009

Tudo o que queria

Estava de mudança. Iria se casar em breve, decidia o que iria levar para a sua nova casa. A felicidade lhe contagiava enquanto remexia em seus cadernos de colégio. Ria de suas lembranças da adolescência. Ela folheava tudo e os melhores anos de sua vida vinham a sua mente e sentia saudades. Estava, agora, folheando o caderno do terceiro ano do ensino médio. Todo bagunçado, anotações no rodapé da página, afinal, havia sido o ano do vestibular.

Lembrava de suas horas de estudo, trancada em seu quarto, dos grupos de estudo, das madrugadas de insônia. Havia valido a pena, todas as renuncias que fizera. Passara no vestibular, conclui a faculdade de direito, fez concurso e agora era procuradora da república.

Ainda folheava o caderno quando, de dentro dele, caiu um papel. Estava dobrado no meio. Era uma folha diferente da do seu caderno. Abriu com cuidado e viu que se tratava de uma carta. Não se lembrava dela, então começou a ler.

“Renata,

Há muito tempo não conversamos como antes. Saiba que sentirei falta. Você deixou de viver para estudar. As horas gastas na porta de sua casa falando sobre nada deixaram de existir. Esse maldito vestibular roubou você de mim. Eu sei que não é bem desse modo, afinal, você nunca foi mais do que minha amiga. Mas deve ter percebido que o que eu sinto é mais do que uma forte amizade. Agora que você vai embora queria deixar isso claro. Eu te desejo toda a felicidade do mundo, você já conseguiu uma parte do que queria. Vai para a universidade, espero que complete o seu sonho.

Leonardo.”

Ela segurava o papel e lembrava de quando o havia recebido. Fora na sua festa de despedida. Ele a abraçara e entregara aquilo. Ela o havia colocado dentro do caderno, sem ler. Na época não tivera vontade, qualquer coisa vinda dele a comovia. Ela também o amara, e ele nunca soube. Ela havia acabado de descobrir que seu amor fora correspondido.

Respirou fundo. A memória da última vez que o vira veio a sua mente. Foi como se tivesse sentido o perfume que ele usava naquela noite. Lembrou dos olhos escuros dele olhando fundo em seus olhos claros. Sentiu o abraço que ele a havia dado, a lágrima ela deixara cair sem que ninguém notasse. Percebeu que estava chorando de verdade, enxugou o rosto. Olhou para o papel, sem saber o que fazer, dobrou-o e colocou dentro do caderno. Largou tudo aquilo e saiu do quarto.

Uma semana depois estava se casando. Seu vestido era mais branco que sua pele, a maquiagem lhe ressaltava a beleza, os cabelos castanho-claro brilhavam e um diadema enfeitava sua cabeça. No altar, diante de todos, iria começar a recitar os seus votos. Foi quando algo lhe chamou a atenção. No meio dos convidados, como um intruso, lá estava ele.

Seus olhos se encontraram como da última vez, sentiu seu coração aos pulos. Respirou e suspirou baixo. O que ela estava pensando? Não iria desistir de se casar agora. Não podia. Afinal, nem sequer sabia se ele ainda a amava e porque estava ali. E talvez aquilo que sentisse fosse apenas uma excitação momentânea. Voltou-se para seu noivo e fez seus votos. O padre a declarou casada. E ela estava feliz. Tinha tudo o que sempre desejou, e aquele homem intruso no meio dos convidados, que um dia ela amara, agora era só uma lembrança.


ouvindo: paramore - pressure

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